quarta-feira, março 02, 2011

Quatro Mãos



… Morei numa casa velha,
Velha, grande, tosca e bela,
À qual quis como se fora
Feita para eu morar nela...

Cheia dos maus e bons cheiros
Das casas que têm história,
Cheia da ténue, mas viva, obsidiante memória
De antigas gentes e traças,
Cheia de Sol nas vidraças
E de escuro nos recantos,
Cheia de medo e sossego,
De silêncios e de espantos…


José Régio in «Toada de Portalegre»


 Pintura de Rocha de Sousa


Em passos mansos, eis chegado Março cheio de sol, temperatura amena, a trazer o Carnaval a desoras, a dizer da Primavera que nasce.

O dia fica aberto mais tempo, preso às camélias, às magnólias, ao cheiro forte dos jacintos. Os pessegueiros já coram, em breve as amendoeiras, as cerejeiras, as ameixoeiras se vestem de noiva a anunciar os frutos que virão.

Não é para mim um Março qualquer. Será com certeza um Março diferente dos anteriores, e eu afinal deveria estar exultante por abrir os olhos de manhã e ver o sonho ali à minha frente: o céu azul vibrante, os pássaros as borboletas as flores o rio as tempestades, a casa grande dominando tudo.

A casa grande que ruiu e se desfez em pó, donde emerge agora o espírito a atravessar vidas, a unir vidas em cores e palavras.

Eu olho e sinto. Inquieta.

7 comentários:

Justine disse...

Vais então oferecer-nos um livro? E quando e onde vai ser esse acontecimento?
O "objecto" está lindo, e tenho a certeza que literariamente será de primeira água, pelas amostras que nos tens oferecido nos teus posts:))))

M. disse...

Uma beleza que promete. A amostra é muito bonita.

Manuel Veiga disse...

tempo de vésperas. aguardemos as cerejas. (ou a memória delas)

que serão belas e suculentas. estou certo.

como teu livro. que espero conhecer. em breve.

beijos

aquilária disse...

jawwa,
que excelente surpresa!

direi mais por email.

um enorme abraço.

Rocha de Sousa disse...

Que bom ver chegar a hora e a coi-
sa,a memória sobre todos os esque-
cimentos.Foi bom caminhar consigo.
É bom ter esta vivência entre me-
mórias da mesma África.
A capa ficou fresca e apelativa. E prepare uma segunda edição.
Parabéns.

Miguel Baganha disse...

Jawaa,
depois de alguns anos de ausência manuscrita (porém marcando presença de leitura sempre pautada pela disponibilidade) e evocando a partilha e o bom convívio de outros tempos, felicito-a pela escrita do seu livro que agora chega «em passos mansos» ao lançamento numa estação onde tudo floresce. Que a estação escolhida para acolher este "nascimento" presenteie o seu "broto" com as cores e os aromas do sucesso.
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Espero que após ter conseguido desenhar «o tal golpe de asa», encontrar «a imaginação» e «a invenção» e suportar «a ferida que dilacera a alma e rasga os silêncios que se calam» continue a sentir que pertence «aos oito por cento da população do planeta que tem obrigação de sentir-se feliz».
Porque eu penso ser possível escrever «um livro de verdade quando (se) é feliz».

Nota: as partes do comentário assinaladas por aspas foram extraídas da edição de
Terça-feira, Outubro 07, 2008
Livros - blog DAQUEMDALEMMAR.
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Perpetuando a metáfora: desejo que a vida lhe sorria sempre, Jawwa.

Um abraço,
Miguel

Teena in Toronto disse...

Happy blogoversary :)