segunda-feira, novembro 22, 2010

Pétalas de Outono

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade


 O vento sopra em desatinos arreliando as roseiras que insistem em dar flor. 

As pétalas pousam e esperam que o sol as queime ou a chuva as escureça e então se apertam ao chão que as abraça para renovar a terra.

Como o poeta canta, elas vivem o presente e dão cor às pedras, enfeitam o verde enquanto são viçosas.

Há tempestades no céu que se adivinham, mas por enquanto as nuvens vagueiam mansas entre pedaços de azul, de cor cinzento escuro mas debruadas a branco luminoso, em folhos brilhantes como saiotes reflectindo o sol.

Uma vez só questionar o futuro ou o passado, traz arrepios que o vento transporta. 

Assim, entre cinzas e escolhos, sejamos solidários, dancemos com ele.

3 comentários:

Rocha de Sousa disse...

Grande Dumond
E Jawaa
«Senhora, trazeis tantas flores no vosso regaço.»
«É em nome do ser solidário.»
«Sabeis bem, senhora, como essa pa-
lavra se confunde com aquela outra
da nossa alma: solitário.»

Justine disse...

Drummond de Andrade é fulgurante no modo como diz, como pensa, como afirma. E é no presente que nos afirmamos, nos actos de solidariedade,"entre cinzas e escolhos"
Abraços fortes

Manuel Veiga disse...

"Laços e Nós" ... por vezes lassos. outras solidários...

delicada a tua escrite. como pétalas ao vento. ou jogadas ao mar...

beijo