Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa,
Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti.
Caía mansa a noite; e andorinhas aos pares
Cruzavam-se voando em torno dos seus lares,
Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.
Era a hora em que já sobre o feno das eiras
Dormia quieto e manso o impávido lebréu.
Vinham-nos da montanha as canções das ceifeiras,
E a Lua branca, além , por entre as oliveiras,
Como a alma dum justo, ia em triunfo ao Céu!...
E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço,
Vendo a Lua subir, muda, alumiando o espaço,
Eu balbuciava a minha infantil oração,
Pedindo ao Deus que está no azul do firmamento
Que mandasse um alívio a cada sofrimento,
Que mandasse uma estrela a cada escuridão.
Por todos eu orava e por todos pedia.
Pelos mortos no horror da terra negra e fria,
Por todas as paixões e por todas as mágoas…
Pelos míseros que entre os uivos das procelas
Vão em noite sem Lua e num barco sem velas
Errantes através do turbilhão das águas.
O meu coração puro, imaculado e santo
Ia ao trono de Deus pedir, como inda vai,
Para toda a nudez um pano do seu manto,
Para toda a miséria o orvalho do seu pranto
E para todo o crime o seu perdão de Pai!...
………………………………………………
A minha mãe faltou-me era eu pequenino,
Mas da sua piedade o fulgor diamantino
Ficou sempre abençoando a minha vida inteira
Como junto dum leão um sorriso divino,
Como sobre uma forca um ramo de oliveira!
domingo, abril 12, 2009
O Dia Esperado
Guerra Junqueiro
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5 comentários:
Eu também rezo. Embora a moda seja há tempos posar de ateu. Um poema bonito, terno e singelo. E mãe é sempre mãe.
Desculpe a demora em aparecer.
Se gostas de pintura, tem um texto sobre Frida Kahlo no endereço abaixo:
http://www.amalgama.blog.br/04/2009/frida-kahlo-maravilhosa-e-visceral
Beijos,
Daniel
Que festival de rosas, cada uma a mais bela! Até chega aqui o cheiro:))
(que festival de ritmo, a poesia do Junqueiro...)
Guerra Junqueiro, um poeta (heretico rss) tão desconhecido...
apreendi a dizer esse poema de cor. in illo tempore!...
grato pela suave recordação.
beijos
Um abraço a ti e ao Jardineiro. Tem razão, rosas a abrir e poemas esquecidos, ficam bem.
Bjinho
Um jardim-escada que nos eleva o pensamento. Lindas as rosas!
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