Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos
E pera mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só pera mim,
Anda o Mundo concertado.
Luís de Camões
As primaveras são a aspiração de todos os invernos, porque em cada nova estação há um reviver de alma.
Há sempre asas novas cortando os céus e uma cor abrindo no chão escuro, no tronco carcomido, um bolbo esquecido na terra de repente abrindo um olhar ao sol. Há sempre uma lareira que se apaga, serena, esperando o desejo dos homens, pronta a dar calor ao mais leve apelo, ainda na suavidade do Outono, o fim de todas as primaveras.
Nascer na força da estação que corre pode ser um privilégio. Pode ajudar a combater a hostilidade que assola em todas as frentes, pode dar força a uma estratégia que a natureza ensina, brotando em cor nos troncos secos, na pedra nua, no deserto mais seco, desembrulhando folhas, rasgando a terra, a um tempo soberba e humilde.
Humilde porque brota no chão rasteiro sob os pinheiros altos, porque sabe estar presa à terra e olha as aves mais alto ainda, porque escuta os segredos dos insectos que a visitam. Soberba porque tem sonhos que voam longe e tem cor e tem vida dentro de si, tem o alimento que as abelhas, as borboletas procuram.
Olha à sua volta e sabe que a chuva nem sempre desenha arco-íris no céu.
8 comentários:
Belíssimo o teu post! Eu nasci na Primavera...muitos beijos.
O teu texto deixa em mim uma sensação de paz, feito algumas canções do pessoal do clube da esquina. Feito a voz de Milton Nascimento. Mas esse teu texto é estranho, porque ele tem toda uma aura de otimismo, mas termina afirmando que nem toda chuva traz um arco-íris. E isso é pessimista, ou estou enganado?
Apesar de tudo, existem sempreas primaveras e vivaldi e coisas, ainda que poucas, que valem a pena.
Abração
A natureza, a dar-nos confiança e exemplo, e a ensinar-nos que o recomeço é possível, sempre.
O teu texto, cheio de cheiros e cores primaveris:))
Terá alguma razão este nosso
pianistaboxeador21, mas ele talvez
não saiba que o «pessimismo» de jawaa é o seu lado mais fraco, logo
atravessado por manhãs e orvalhos
limpídos. É nesse sentido que nos aponta a figura da humildade ligada
à soberba capacidade de voar, sonhos que pairam longe e têm cor,
vida dentro de si com abelhas e borboletas.Das alturas, Jawaa sabe por vezes observar as circunstân- cias e contingências do mundo, o raro surgimento, entre nuvens, do arco-iris. A condição humana só se resgata pela serenidade lúcida no
interior da tormenta.
Rocha de Sousa
pagão e belo...
adorei o texto.
beijos
A sorte é que temos quatro estações.
Lindo e intelecto é esse seu texto. Quando quero refletir, vou até a Portugal, no seu blog. A viagem não demora; na volta trago uma imensa e útil bagagem.
A minha sorte é ter seu blog ao meu alcance.
Abraços.
O mundo das pequenas grandes coisas!
Tanta riqueza quase invisível...
Um beijinho
Muito bonito, Jawaa. E a fotografia que tão bem te acompanha na suavidade das tuas palavras.
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