Quem ama a liberdade conhece que é idêntica
A verdade e a não-verdade o ser e o vazio
E por isso na sua celebração a metáfora expande-se
Na liberdade de ser a ténue sabedoria
Desse momento e só desse momento em que o arco cresce
Há então que procurar a chuva dessa nuvem
Ou desdizê-la não para o nosso olhar
Mas para um outro rosto de areia que cresce no vazio
E poderá ser de pedra ou de ouro ou só de uma penugem […]
António Ramos Rosa
A chuva escorrendo na janela traz um brilho que se reflecte bem cá dentro.
Penso nas gotas que escorrem tão humildes, tão ternas, acariciando o vidro. Como elas se tornam poderosas se em bando, se chutadas pelos ventos, se anunciadas pela trovoada. Quando vem o sol, parecem lágrimas alegres brincando de diamantes, pequeníssimos brilhantes ou gemas preciosas, transparentes.
Sem cor ou reflectindo mil cores, assim me traz à lembrança a vitória recente do novo líder da América, quiçá do mundo. Queiramos ou não, está provado que o equilíbrio económico e social do planeta depende do comportamento de um homem só, senhor de vontades cujas deliberações alteram o curso das peças que compõem o xadrez que todos jogamos. O mundo e os americanos apoiaram sem reservas o homem que conseguiu manter-se acima das questões de somenos, que soube elevar-se pelas ideias que devem gerir a reconciliação dos homens, sem segregacionismos.
Do homem brilhante que parece ter recusado ofertas chorudas de emprego após Harvard, preferindo a defesa de direitos cívicos de minorias no seu país, os americanos esperam uma mudança de cariz sociológico; o resto do mundo pede-lhe que tenha a percepção do seu poder, dentro da humildade de carácter que parece sobressair do seu registo, aceitando a mão que lhe estendem os seus anteriores opositores, na resolução dos problemas actuais mais candentes. Que essa humildade faça aceitar as deliberações propostas para o equilíbrio do planeta, que o diálogo leve a que todos os países as respeitem e se respeitem.
Assim espero eu mais compreensão, mais justiça, menos violência, menos fome. Seja ele uma das gotas maiores e mais brilhantes que fazem a tempestade bater e lavar os vidros.
9 comentários:
Na verdade, também eu assim espero. Mas tenho a consciência de que o predidente dos EUA não é nunca um homem só. Tem a pressioná-lo forças que nem imaginamos. E, por isso, temo. Mas tenho esperança. **
Com uma pequena nota no blog, tam-
bém assinalei a eleição de Obama. E
acho muito bem meditada a sua espe-
rança no que vai mudar e como. Aos
EUA também chegou uma espécie de hora redentora, milhões de votan- tes em jeito ordenado de cidadania,
depois as vagas humanas em Chicago
(e um pouco por toda a parte) como
se uma população outrora desmobili-
zada se tivesse europeizado no modo
de vencer a noite, os carros api- tando, as bandeiras agitadando-se.
Muitas das imagens que vi, lembra-
ram-me as nossas noites de mudança
desejada, esta maneira de vir para a rua. E quando assim é, algum si-
nal de racionalidade toca a emoção.
O exemplo de Obama tem de ser as- sumido pelos americanos, procuran-
do limpar o país, devolver-lhe o que de melhor ele tem, para eles e
para todo o mundo que tanto influ- enciam.
Rocha de Sousa
O seu blog está lindíssimo.
A Liberdade é a essência do ser humano. Um belo texto.
Excelente texto, muito bonito e bem articulado. O início até me lembrou Lygia Fagundes Telles e clarice Lispector, duas escritoras que amo. Quanto ao Obama, da mesma forma que o mundo inteiro, estou com a esperança e torço para que ele faça as escolhas certas, pois acredito que a pressão em cima dele será grande e os abacaxis deixados pelo querido Bush não são poucos.
Estive desaparecido por uns dias, pois fui assaltado e agredido aqui em S.P. é viol~encia em cima de viol~encia, comigo nunca tinha acontecido, agora aconteceu. Estou melhor agora e estou de volta.
Abração,
Daniel
Convido para fazer uma experiência lá no meu sítio. Olhe que é muito giro!
Respeitosos cumprimentos.
bela "oração". que murmuro contigo...
beijos
O homem tem uma tarefa hercúlea pela frente, e um "mundo" de interesses contrários a fazer pressão. Vamos ver de que ele é capaz...
Embora me pareçam, sob alguns aspectos, questionáveis uma ou outra premissa, é verdade que todos estão com os olhos postos nele. Talvez que, à maneira portuguesa, haja aqui uma certa forma de sebastianismo. Isto, espero, no sentido menos perjuro do termo...
abraços!
beijo
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