Não sou nada
Nunca serei nada
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo…
F. Pessoa
A sabedoria do Homen está em questionar-se. A si, aos outros homens, aos bichos, às plantas, ao planeta, às pedras, ao planeta em que mora, à galáxia a que pertence, ao universo.
E questionar é estabelecer oposições, geri-las. O bem e o mal existem? Sim, se baseado numa determinada moral, aceite e concebida pelos homens. Mas se quisermos olhar do alto, encontramos Einstein e relatividade de tudo o que envolve a dicotomia que preside à evolução.
A matéria (é) a energia, o corpo o espírito, a abundância a fome, a alegria a tristeza, o homem a mulher, a mocidade a velhice. Nenhum se conhece sem o outro, opostos completando-se.
Os velhos debitam a sabedoria dos anos, a certeza já da inexorabilidade da pedra rolando pela colina e o regresso duro, montanha acima. Sabem aproveitar a descida olhando o capim novo depois da queimada, sorvendo a água da fonte antes de ser contaminada, olhando o sol que o poente levou no espelho da lua, contando as estrelas que já não são, pedindo um desejo quando alguma parece riscar o céu. Há os que têm todas as certezas: do fogo que consome a floresta, da poluição sem retorno, do sol que vai perder a luz, da terra que vai gelar.
Os novos sabem a novo. Consomem velozmente o futuro sem viverem o presente ou sequer olhar o passado. Olham sobranceiros os velhos que nunca vão ser. Mas há os novos que são jovens e sonham como os meninos que foram os velhos. Esses caminham devagar seguindo as estrelas, ouvindo os rios cantar, dando a mão aos bichos, saudando as árvores mais altas.
Desses espero que saibam escolher as rotas, construir os ninhos, abrir caminhos novos sem danificar a paisagem.
6 comentários:
Quem conhece a sua ignorância revela a mais profunda sapiência. Quem ignora a sua ignorância vive na mais profunda ilusão.
Sempre apontando ao vento as velas do seu moinho, a jawaa carrega bem
as baterias da sua mente e do seu
imaginário para ganhar mais sabedo-
ria a fim de questionar alguns im-
portantes problemas com que nos de-
batemos: os princípios coordenado-
res da nossa vida em sociedade, as
regras quotidianas de relação, a eventual beleza de tudo isso, mesmo
no difícil balanço do bem e do mal,
um pouco a síntese do que somos e
quem somos.
A sabedoria dos velhos é uma sabe-
doria que passa mais pelos afectos e pela memória do que pelas moder- nidades da tecnologia e dos efei- tos do consumo.De resto, com a dis-
solução plural da família, entre outras coisas desse tipo, a forma- ção e a cultura da juventude não chegam ao patamar da sabedoria. Reféns do espectáculo e de outro tipo de apelos desse género, sabem pouco da sua própria origem e do seu eventual futuro.E aí os temos, redutores ou mesmo autistas, gas-
tando a fugacidade dos prazeres e muitas vezes demoradamente presos aos pais pela crise de emprego.Um avô, mesmo avô,pode ajudar no jar-
dim ou arranjar elementos funcio- nais, recordando ainda os tempos
da sua juventude: isso é pensado pelos netos como seca e não como a beleza restante da natureza.
O mundo global tende a deslizar pa-
ra um abismo ontológico e planetá-
rio. Penso que escrevemos em nome
da troca de informações mas também
para nos inventarmos para além da
própria velhice.
Do amigo
Rocha de Sousa
Peço desculpa de ter escrito tanto
e com discutível substância, além
de me distrair quanto ao método de
postar comentários, para não dar
aquelas linhas que me atormentam.
RSousa
Bela reflexão sobre a passagem do tempo, a arrogância inerente à juventude, a sabedoria que todos os velhos deviam atingir. E de como tudo se completa. Que assim seja!
Olá Jawaa
Os teus textos encantam!
Admiro a tua capacidade de reflexão e sabedoria.
Grande abraço
Voltei!!
Já tinha saudades.
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