Não é a primeira vez que trago a este espaço o escritor que repetidamente me honra com palavras amáveis de incentivo à minha produção escrita.
Dedicado também às artes plásticas que vem divulgando na blogosfera, em Construpintar e Desenhamento, Rocha de Sousa prendeu-me pela sensibilidade da sua escrita em «Angola 61», a crónica de uma guerra em que participou, e onde eu pude encontrar descrições emocionantes de lugares e gentes com quem partilhei grande parte da minha vida, na terra em que cresci.
Depois de ler «A Culpa de Deus», voltei a encontrar uma escrita séria e acutilante, mas leve e agradável no desvendar de «segredos», muros adentro do antigo convento de S. Francisco, em Lisboa, onde o autor também se entregou a uma vida de estudo e dedicação.
Este livro acaba de ser lançado no mercado e é um testemunho vivo de uma das faces da nossa Revolução dos Cravos, a revolução cultural que tarda em cumprir-se.
Aqui deixo, transcrito, um pequeno excerto da obra agora publicada.
«A morte das regras, as falsas alternativas de escolhas destituídas de sustentabilidade, a face social absorvida apenas pelo seu reverso, essas foram, entre egoísmos vários, o caminho lateral do chamado processo revolucionário, imagens ilusórias da conquista da verdade, risco, riso, fonte de prazeres e de vinganças. A disciplina dos comportamentos colectivos desfazia-se como as velhas palavras dos velhos académicos, entre contradições tidas por redentoras. Os mais resistentes, moral e fisicamente, chegavam aos lugares de trabalho na hora certa, para o trabalho ponderado, mas encontravam salas ainda vazias ou habitadas, na sombra, por dois ou três alunos. A vontade política dos governantes, instituindo o ensino artístico na universidade, as Escolas de Lisboa e Porto, viera no limite dos papéis expostos, abrira novos dossiers, pensara tarde a modernidade dos anos 60. Durante treze anos o próprio país envelhecera descompensadamente e o laxismo das pessoas, das repartições, dos organismos públicos, na torção da pirâmide, esbatera o perfil antigo da nossa história, desertificara paisagens e corações, apagara no quadro preto a luxuriante geometria de uma identidade nacional, de um destino. O país fugia de si mesmo, confinado a metrópoles de betão e vias rápidas, e o sentido quotidiano das coisas era cada vez mais redutor, entre o desemprego e a alucinação do consumo.»
10 comentários:
Vi a nostalgia das flores, o banho, o envelhecimento dos animais que temos e como nos parecemos a eles; o fogo e a flor que nos consome.
Reli as palavras do teu amigo que aqui já lia antes: penso referirem-se aos anos 80??? Uma lucidez de pensar o ensino e a cultura que nos equilibraria deste prolixo deserto informativo.
Bjinhos
conheci (por dever de ofício ), tempos mais tarde, algumas "mazelas" das Belas Artes pre-anunciadas no texto que apresentas...
Obrigada por me apresentares o autor e o livro, que não conhecia, mas que irei conhecer.
Abraço:))
(obrigada pelo poema de RB! E podes entrar sempre que quiseres, o prazer será meu)
Olá Jawwa
Este teu amigo escreve muito bem.
Já tive o prazer de ler, os sempre esclarecidos e profundos, comentários que ele deixa neste teu encantador espaço.
Certamente que irei adquirir o livro.
Grande abraço
Muito interessante, não conhecia.
Beijinhos.
P. S. Estamos à espera de mais contributos com a mesma qualidade na NA... ;)
Eis uma óptima descoberta. Uma boa semana.
Gostei muito desta forma de se falar de um livro, de um homem artista, escritor, de uma amigo.
O livro é belissimo.
Uma boa semana
Daniela
P.S:Quanto à minha fotografia, é "natural", foi simplesmente passada a Preto e Branco com pequenos retoques.Nada de especial. Tive sorte com a luz, as sombras pruduzidas e o espaço semi-descoberto.
:)
Beijinhs
Pois é, Jawaa, Rocha de Sousa escreve muito bem e os seus dois blogs são de grande qualidade.
Cara Jawaa,
Escrevi-lhe há pouco, ainda sobre a
sua voz dentro e fora do meu livro.
Embora tenha passado por aqui,como
habitualmente faço, desde há dias
que não o fazia. Estava agora a filmar em DVD o magnífico trabalho
animado sobre a Guernica,quando me avisaram desta apresentação dos meus últimos livros, trancrevendo
um trecho significativo doúltimo
livro. Ainda por cima, é tudo bem feito da sua parte; até apetece pegar naquele post e mandar, aos milhares, para as nossas atentíssi-mas editoras, jornais e televisão. Agradeço aqui, publicamente, em vez de me encerrar na partilha de um mail, normalmente a dois. Agradeço os comentários que li aqui. É tão bom não estar sempre sozinho.
Um abraço a todos.
Vou providenciar para que a Editora restabeleça o mercado em
Lisboa, mas há livros na própria
Faculdade de Belas Artes.
Rocha de Sousa
Fluidíssima escrita, sem dúvida!
Grata por me dares a conhecer um filão que irei explorar, pelo muito que de pedagógico promete!
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