No fim de tudo dormir. |
Hoje, a noite chegou para mim de forma diferente.
Fui lá fora e olhei o céu, procurei as estrelas. Olhei o sul, talvez sueste.
Uma nuvem alongada e escura repousava quieta um pouco acima do horizonte e a lua branca, quase redonda, olhou-me serena, seráfica, afastando aos poucos os flocos brancos que a encobriam. Leu nos meus olhos a pergunta, as perguntas sem resposta. E ficou ali comigo aquietando-me quando tentava lembrar quando conheci o Rui.
Não sei, não me recordo. Quando eu nasci, já a sua companheira de quase cinquenta anos cirandava lá por casa, amiga preferida de meu irmão. Crescemos juntas, ela a menina sensata e doce que me era indicada como exemplo de compostura numa infância em que partilhámos tudo na terra longínqua que nos serviu de berço.
A continuação dos estudos na Metrópole. Obrigatoriamente.
Casaram nos Jerónimos, o copo-de-água
Sei que levei a baptizar-lhes o primeiro filho, o Pedro, ao Sr. Bispo na Sé
O meu irmão já não vai poder fazê-lo, mas eu, amanhã, vou estar convosco.
Vou levar a enterrar o Rui.
8 comentários:
Mais um fim, na aldeia-cosmo da tua vida. Sempre que vejo a lua cheia num c�u bem escuro, � de �frica que me lembro, mesmo sem lembran�a... De uma menina branca ao colo de uma ama negra; e se dist�ncia existe, � por falta de mem�ria do vivido. Contigo n�o � assim, e por isso, por momentos, hoje tudo te � t�o pr�ximo - at� aposto - do que costumava ser ent�o. Um abra�o de luar para ti!
(Vai ter que ir sem acentos)
Mais um fim, na aldeia-cosmo da tua vida. Sempre que vejo a lua cheia num ceu bem escuro, "E" de Africa que me lembro, mesmo sem lembrança... De uma menina branca ao colo de uma ama negra. E se distancia existe, "E" por falta de memoria do vivido. Contigo nao "E" assim, e por isso, por momentos, hoje tudo te "E" tao proximo - ate aposto - do que costumava ser entao. Um abraco de luar para ti!
Belíssimo texto, nostálgico, dorido mas tranquilo. A dor pode ser assim.
Abraço
absoluto domínio da escrita. e das emoções...
gostei mto.
Sentido!
Beijinho aqui deixado por mim
Olá Jawaa
És enorme! Transbordas de puros sentimentos.
Abraço
Uma comovente e bela homenagem,jawaa!
Beijinho
Para este momento tão serenamente
abordado, lembrei-me de dois fechos
teatrais.
A saudosa Maria Matos, na sua té-
cnica naturalista, advertia um ini-
migo de várias faces,de pé, a ben-
gala estremecendo:
«As árvores morrem de pé».
E Brecht, na «A boa Alma de Tsé-Chuão»:
«Estamos desesperados e não é a brincar».
Rocha de Sousa
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