Assim tem sido sempre a minha vida, e
assim quero que possa ser sempre –
vou onde o vento me leva e não me
sinto pensar
Alberto Caeiro
Os homens todos deveriam saber voar.
Conhecer as nuvens do lado do céu, olhar a prata das estrelas, encantar-se com as cores da terra pintando a tela azul-verde dos mares. Encontrar-se deus varrendo do espírito a fealdade da sua carapaça, a rigidez do aço que assombra os seres do ar. Construído pelos homens para invadir o reino que não lhes pertence, não faz parte da paisagem, é um ser desconforme.
Ou antes, é belo, é perfeito, mas não é natural. Não tem leveza, não vibra com o sopro do vento afagando o bico, estremecendo as penas, não se entrega ajeitando as asas com a sensualidade da águia ou do condor. Preenche todavia a ambição de glória dos homens, o prazer da conquista, da caça. É um troféu.
É a diferença que vai entre a epopeia de decassílabos acentuados na nota inalterável, na sucessão dos cantos, na complexidade da obra ímpar que constrói uma História de homens e deuses , e a modelação livre e apaixonada de uns versos ao ente fantástico guardador dos mares:
«…Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou três vezes,
Voou três vezes a chiar,
E disse, “Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?”
E o homem do leme disse, tremendo,
“El-Rei D. João Segundo!”…»
10 comentários:
Que os bons ventos nos levem aos nossos destinos, Jawaa!
Belíssimo texto, gostei imenso de te ler!
O meu avô foi um dos pioneiros da aviação portuguesa e acho que ele ainda podia sertir-se pássaro naqueles aviões de papel...
Agora já vai na 4ª geração, a necessidade de andar por esses céus!
Beijinho
Nós brasileiros fomos os propusores dessa "a ambição de glória". Alberto Santos Dumont que o diga.
Impulsionado por essa glória Dumont imitou os pássaros, voou bem até 1914. Quando uma pane, chamada Primeira Guerra Mundial, de uma hora para a outra transformou seu sonho em pesadelo.
Abraços Jawaa.
excelente blog! voltarei com mais tempo! parabéns
É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol,levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes:
mais nada.
Alberto Caeiro
Palavras de nuvens, poeta de heterónimos, fundo de fazer sonho aos olhos.
Boa viagem Jawaa.
Até à volta.
Um beijo
de facto os homens deviam saber voar.
e bem o tentaram quando conviviam com os deuses. porém, com "asas de cera". que derreteram...
Gosto muito dos comentários desse blog, também.
\o/ afetuosos
Acima de tudo darem asas ao pensamento........
Tens toda a razão nas tuas observações do texto.
Como tenho saudades de voar!!!!!!!
Andar lá em cima sobre as nuvens e sentir todas aquelas emoções que nos fazem sentir vontade de lá permanecer por mais tempo, contando os minutos para o regresso, porque é chegada a hora de voltar.
É tempo de começar a pensar no novo voo e ansiedade de voltar, porque existe sempre um ângulo desconhecido que é necessário desvendar, novos horizontes por descobrir.
Que bom voar!!!!!!!!!
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