sábado, abril 14, 2007

Ainda a Educação


«…Não foi para morrer que nós nascemos,

não foi só para a morte que dos tempos

chega até nós esse murmúrio cavo,

inconsolado, uivante, estertorado,

desde que anfíbios viemos a uma praia

e quadrumanos nos erguemos. Não.

Não foi para morrermos que falámos,

que descobrimos a ternura e o fogo,

e a pintura, a escrita, a doce música.

Não foi para morrer que nós sonhámos

ser imortal, ter alma, reviver,

ou que sonhámos deuses que por nós

fossem mais imortais que sonharíamos.»

Jorge de Sena



Não vou encetar um caminho novo de esperança, ela está aí evidente em cada crepitar de relva, em cada gorjeio ou alvoroçar de asas por cada renascer de Primavera. Também nos botões de rosa que timidamente vão desabrochando aqui e além.

A esperança é afinal para todos, mesmo para os pulgões e outros seres minúsculos que lutam pela sobrevivência, tirando o viço e a cor ao fausto da roseira imodesta. É a vontade legítima de crescer e de vencer a refrega constante para um lugar ao sol.

O ser humano conseguiu elevar-se pela força da inteligência e dominou o mundo natural. Usando ainda essa força, compreendeu a natureza, o seu ritmo, a inevitabilidade de nos olharmos como iguais no percurso da existência comum. À luz do intelecto construímos regras de harmonia e de tolerância, religiões e leis, organizadas para maior equilíbrio e melhor qualidade de vida.

A alfabetização possibilitou a difusão em massa do conhecimento e essa evolução contínua aduz superioridade na nossa relação com o que nos rodeia. Sobra a análise do relacionamento entre os humanos que deveria pautar-se pelo respeito, pela seriedade, pelo civismo. A liberdade é uma utopia, pois diariamente nos confrontamos com a necessidade de olhá-la nos outros e refrear aquilo que por vezes desejaríamos fazer constar da nossa. O auto controle é a característica que nos distancia dos outros seres, e a educação, dele um sinónimo.

E eu espanto-me com a irreverência desmedida de quem se julga superior porque tem um verdadeiro(?) dr.(?) antes do nome, mostrando desconhecer as leis mais básicas dessa educação, erguendo os olhos diante das câmaras para acusar um seu par de não ter o sangue azul, apenas solicitado pela sua reduzida capacidade de retenção de informação actualizada. As competências requeridas para o exercício do mister que é adstrito ao visado, não passam segura e forçosamente pelo direito de qualquer título antes do nome, mas principalmente pelo modo como aplica os conhecimentos adquiridos por onde quer que os tivesse apreendido.

Queria acrescentar que não estou filiada em qualquer partido político e não faço aqui juízos de valor de qualquer espécie, no que toca a medidas adoptadas de cariz político, reservando-me o direito de concordar ou discordar delas. O que me levou a escrever estas linhas foi tão só o despudor, a vacuidade das acusações, por quem fala em representação de um grupo.

A educação e o respeito ficam bem em todas as esferas; atirar pedras, não vale.

4 comentários:

Rocha de Sousa disse...

Jawaa, cara amiga,
Já deve ter percebido que estou no Algarve e hoje de manhã fui em deriva por alguns sítios de blogs: o seu é sempre atractiva, desde a justa convocação do Sena, à oausa da flor e ao magnífico texto «ainda sobre a educação». Esse é um assunto sempre na ordem do dia e as suas observações acertam de novo no alvo. Depois im-
presiona-me a paz que integra a sua escrita mesmo na indignação e na referência aos «Dr», alusão presumo sobre a licenciatura do 1ºministro, num verdadeiro «mercado da ribeira, onde o país é esquecido e a política faz-se em zaragatas sem
conteúdo.
Muitas felicidades para si e sua filha, vamo-nos encontrando por aqui: as nossas ondas não «descoincidem» muito, antes pelo contrário.
Rocha de Sousa

veritas disse...

Olá!

Espero que estejas a passar um bom domingo!

Bjs.

vidavivida disse...

É sempre uma delícia ler o que há de novo no teu blog.
Uma excelente semana com este tempo primaveril.

Bjs.

naturalissima disse...

Fiquei sensibilizada e encantada com este artigo tão bem dito, tão bem explícito, claro na sua justiça.
Também não me viro própriamente para um Partido em especial, embora a minha inclinação seja mais para a esquerda. O que me revolta neste caso especifico, é "queimarem" a imagem e a dignidade de um homem com base em artificos sem nexo...

E diz aqui e muito bem "As competências requeridas para o exercício do mister que é adstrito ao visado, não passam segura e forçosamente pelo direito de qualquer título antes do nome, mas principalmente pelo modo como aplica os conhecimentos adquiridos por onde quer que os tivesse apreendido."


Uma bela semana
Daniela