Um dia juntei todas as palavras
que já aprendera e
busquei para elas novos sentidos,
novas maneiras de soar e de voar
até ao coração dos homens.
Censuraram-me por tê-lo feito
e houve até quem dissesse:
«as palavras são o que são
e procurar para elas novos significados
é pura perda de tempo e ofensa aos deuses.»
Eu não lhes dei ouvidos
e continuei a escrever, aprendendo
o sabor de casar a palavra «água»
com a palavra «vento» e a palavra
«corpo» com a palavra «terra»
e a palavra «homem» com a palavra «sonho»
e a palavra «natureza» com a palavra «vida».
Foi assim, um pouco sem o querer,
um pouco sem o esperar, que usei
pela primeira vez a palavra «poesia»
que viaja comigo, companheira eterna,
para todos os lugares aonde vou,
desde a memória do homem
até aos últimos esconderijos da noite
até ao fundo da claridade dos dias.
José Jorge Letria
4 comentários:
Tens uma surpresa no Fios!!!
Beijinho
Bonito, esse poema do José Jorge Letria!
Bom Ano! **
Escolha sublime.
Bjs
ET: A dificuldade da acesso tem a ver com o facto de ser melhor visualizado com o internet explorer
Olá!
A palavra, esses efeitos, esses defeitos, essas virtudes...é um dos meus mais doces vícios...estou sempre a lembrar-me daquilo que dela disse Eugénio de Andrade...
Bjs. Bom ano.
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