Ontem o Presidente da República divulgou a sua anuência ao referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. A propósito, em relação a este assunto tão delicado, à forma como se fala nele nos órgãos de comunicação social, sinto-me incomodada. E às vezes sinto vergonha.
quinta-feira, novembro 30, 2006
Às vezes...
Ontem o Presidente da República divulgou a sua anuência ao referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez. A propósito, em relação a este assunto tão delicado, à forma como se fala nele nos órgãos de comunicação social, sinto-me incomodada. E às vezes sinto vergonha.
quarta-feira, novembro 29, 2006
Morreu um Poeta
Exercício Espiritual
É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
É preciso dizer azul em vez de dizer pantera
É preciso dizer febre em vez de dizer inocência
É preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem
É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
É preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
É preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
É preciso dizer Maria em vez de dizer aurora
segunda-feira, novembro 27, 2006
Kevee
«Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.»
Eugénio de Andrade
Os fenómenos da natureza transmitem-me sempre intranquilidade.
A chuva ansiada que cai sem pejo sobre os indefesos da terra, imparavelmente, em rajadas de vento sucessivas, soando em pingos grossos tombados das goteiras quando esmorece a sua força logo retomada, inquieta-me. Ouço a sua impetuosidade que só aceito por breve tempo; se contínua, sinto-a incontrolável e pressinto os danos.
O mundo em que vivo é pequeno, cada vez mais pequeno e respirar é preciso. Eu também sou um fenómeno da natureza no mesmo sentido em que me sinto por vezes, demasiadas vezes, cada vez mais vezes, fluir sem controle, esbarrando nos telhados duros, escorrendo nas estradas de asfalto, formando rios que arrastam máquinas, casas e gentes.
Sei que é inexorável, e desejável, o meu deslizar em socalcos de serra até à planície, a anhara que ladeia o meu rio, rio que lava as minhas pedras do jade mais fino, guardando em si o resplendor de um arco-íris.
Em sonhos vagueio erecta e só, abaixo da casa grande, sigo a vala que desce até à lagoa e paro antes de lá chegar. Para além do lago começa a mata, mas antes, à direita, a elevação das areias é nítida, as areias brancas donde flui a nascente de águas límpidas e o vale que se estende até ao rio. Ouço a voz dos séculos no suor dos homens que escavaram a mina, nos barcos rumando ao Brasil, não cheios de escravos mas de seixos luzentes, na pedra latina do nome do cota que não seria idoso.
Falto à verdade, eu não estou só. Comigo os seres de raça negra que me embalaram o berço, me limparam as lágrimas, me carregaram aos ombros, me ensinaram a falar com bichos e plantas, a respeitar os seres que me rodeiam, aqueles que me deram a graça, os que me esperaram em vão e os que esperam ainda que faça jus a esse nome que gravo na memória.
É por tudo isso que ainda sobrevivo.
quinta-feira, novembro 23, 2006
Quem não gosta do arco-íris?
«- Louco, você? Só porque consegue entender as árvores ou falar com as coisas? Bobagens! Loucos são os outros homens que perderam a poesia de Deus, que endureceram o coração e nem sequer podem entender os próprios homens. Esses são loucos.»
Já não rego as flores do jardim, que o meu jardim é desvario. Depois, a relva não esconde a sua preferência por outros amores, revela bem o seu derriço à carícia da água que lhe vem directamente dos céus.
segunda-feira, novembro 20, 2006
Mariazinha
Nada sei do futuro dos dias que virão.