À tua porta há um pinheiro manso
De cabeça pendida, a meditar,
Amor! Sou eu, talvez, a contemplar
Os doces sete palmos do descanso.
Sou eu que para ti atiro e lanço,
Como um grito, meus ramos pelo ar,
Sou eu que estendo os braços a chamar
Meu sonho que se esvai e não alcanço.
Eu que do sol filtro os ruivos brilhos
Sobre as louras cabeças dos teus filhos
Quando o meio-dia tomba sobre a serra...
E, à noite, a sua voz dolente e vaga
É o soluço da minha alma em chaga:
Raiz morta de sede sob a terra!
Florbela Espanca
Nem sempre as manhãs são claras e besuntadas de sol polvilhado a rosas. Amanhecem preguiçosas dentro de lençóis de bruma, pesadas de edredons de nuvens com promessas da chuva que não cai. Ao calor do dia que cresce junta-se, não o som da chuva, mas duma escavadora que em breve tempo derruba dois magníficos pinheiros com largas décadas que ninguém de bom senso desdenharia ver muros adentro de sua casa.
Tenho amor pelas árvores, mais ainda do que pelas flores, ou diferente, talvez. As árvores frondosas foram sempre o lugar de repouso, a sombra desejada no meio da anhara, a chana da minha infância no outro continente. Um pouco a Mais-velha africana, aquela que protege e que cria e que se dá até ao fim, que oferece o peito aos netos ainda que o leite não corra. A árvore carcomida pelo tempo mas que ainda dá lugar aos ninhos das águias e guarda dentro do tronco as crias de animais e pássaros. Enquanto desenhada no céu, alta e ramosa, conversando com os ventos, soltando chilreios, é um ser que nos faz companhia, que sabemos ali todas as manhãs, símbolo de fidelidade, de firmeza, de paz.
Em Portugal acorda-se lentamente, demasiado lentamente para a necessidade de se proteger as árvores características da região que habitamos, para a urgência de se dissuadir firmemente o plantio de espécies nocivas, quando sabemos o caminho da desertificação anunciada. Mas alguns passos vão sendo dados, e o sobreiro foi, finalmente, declarado espécie protegida. Parece ser elevada a quantia a pagar perante o abate de um sobreiro, e a educação do povo faz-se muitas vezes de forma menos própria, pela única maneira de compreensão imediata: a multa.
Ráspartaopatrimónio! - comentava o trabalhador à hora em que eu registava estas imagens, deleitada, a mirar aquele vaso grande com um sobreiro dentro; e entristecida, pelos pinheiros jazendo ali ao lado, quando poderiam ter-se mantido altivos e belos a proteger e a embelezar o jardim da casa nova.