sábado, abril 05, 2008

Abraço



Vou levar-te comigo.

A ternura no trato, o cuidado no olhar, o jeito de sorrir, às vezes triste, que me passas e eu embrulho numa lágrima que não escorre porque os olhos cresceram com tudo o que me deste. Brilham mais agora, aquecidos de ti, do que colheste de mim, do que floresceu da pedra gasta, marcada de sulcos que eu preferia não ter, não ver.

Há quem pense que o sempre não existe, mas não é verdade. É tanto o que permanece, mau grado os anos, a idade, a distância, o espaço, os espaços. Apesar do peso da vida, dos desenganos, dos desencantos, dos desencontros. Para além das incertezas, das inconveniências, das incoerências, das aparências.

Sentir está para além de tudo.

Só depende de nós. Dos anos desfiados, das primaveras floridas de rosas, dos cacimbos azuis, das chuvadas torrenciais, das chuvas mansas, das neves esparramadas pelos telhados a escorrerem em gelo no dealbar da nova estação que se anuncia.

Ainda nos meus olhos a lava branca sobre a imensidade dos campos, desenhada de árvores nuas e eu deixo-te – o quê? – encharcada de sonhos repletos de infâncias, de cumplicidades, de alegrias, de afectos, de ternuras, de saudades já .

E as tuas mãos por cima dos meus ombros.

Vais permanecer comigo. Sempre.

Até ao último pulsar.


9 comentários:

Rui Caetano disse...

Um texto para reflectir e umas imagens para sugerir um passeio por esses lados. Um bom fim de semana.

Manuel Veiga disse...

sempre é o momento. os teus momentos são belos.

"reconfortante" texto. gostei muito.

Rafael Almeida Teixeira disse...

Quem tem tais concepções do sempre quase sempre vive mais feliz.

Suas figuras de linguagens são as mais belas.

Disto, seus leitores hão de concordar crucialmente comigo.

Afetuosos abraços \o/

mena maya disse...

Quem parte leva saudades,
quem fica saudades tem...

Sempre que eu partia para longe, a minha mãe ao despedir-se de mim, nunca dizia Adeus, só Até Sempre!

Bom começo-de-semana Jawaa!

M. disse...

Tão bonito, Jawaa!

Sant'Ana disse...

Se me envolvi em neves alheias agora sirvo-me do xaile das tuas palavras.
Ajeito-as a mim e sinto essa felicidade que se arrasta como um manto longo. Dizem que é saudade.

Um beijo.

rui disse...

Olá Jawaa

A tua bela escrita, a tua sensibilidade e a enorme capacidade de raciocínio que deténs!

Grande abraço

vidavivida disse...

Com as tuas palavras, creio ter percebido os teus sentimentos...e até me comovi.
Enquanto há vida há esperança e depressa voltarás a ter o carinho e afecto de quem deixaste noutro continente. Tenho certeza de que os sentimentos de ambos são recíprocos.
Desejo que o teu desejo se realize o mais rápido possível.
Bjs.

bettips disse...

Tão sentida que poderia dizer, sentindo, o mesmo.
E tão longe, a milhares de kilómetros ou apenas a alguns: a nossa semente-esperança de Eternidade.
Bjinho