«Gabriel Garcia Marques referiu-me, muito ofendido, que lhe tinham suprimido em Moscovo alguns trechos eróticos do seu maravilhoso livro Cem Anos de Solidão.
– Isso foi muito mal feito – disse eu aos editores.
– O livro não perde nada – responderam-me; e percebi que o tinham cortado sem má vontade. Mas podaram-no.»
Pablo Neruda
Acidentalmente.
Encontrei esta noite Maria João Rodrigues, no Clube de Imprensa, no Canal 2, a defender com galhardia a importância da União Europeia no mundo actual (obstinado em dominar pelo poder económico e político) no que toca principalmente a Educação e a Cultura – contra uma outra ideia de decadência.
Curiosamente.
Esta mostra, que lhe retrata a vida desde a infância e adolescência através de milhares de documentos, fotografias e variado suporte informático em cartas, traduções, críticas literárias e todos os seus livros, mesmo os primeiros poemas do escritor, não é escrita em português.
A exposição que deverá chegar a outros continentes, que permite divulgar quem foi o homem, o intelectual e o activista político e social que é José Saramago não é escrita em português.
Lamentavelmente.
Eu sei que o Prémio Nobel de Literatura 1998 causou muitos engulhos aos portugueses: a sua escrita de um fôlego só – eu, que venero Eça e me enterneço com Lobo Antunes – o seu activismo político, o seu radicalismo, o seu iberismo.
Mas há o homem: Português. Dorido. Frontal. Determinado. Lutador. Ganhador.
Há o Escritor fecundo que foi crescendo e nos deixa uma obra memorável.
Não sei se merecemos estar na União Europeia. Espanha merece.
O Ministro da Cultura de Espanha esteve presente.
A Ministra da Cultura de Portugal não esteve presente.
Deve ter marcado cabeleireiro.