sexta-feira, junho 23, 2006

Natureza

«Ao deslizar no espaço encontrei uma paisagem deslumbrante
como as pinturas medievais: as varas de sabugueiro
brancas
nas mãos dos cesteiros, as colinas orvalhadas.
Torres esfumadas e as austrálias sobre penhascos
que não eram estranhos para quem vinha a cair
da muralha vasta da consciência permanentemente
alheada.
Parras vermelhas num vale avassalador com a largura
do mar e o movimento da passagem ondeante da
verdura
sob essas latadas vermelhas. (…)»

Fiama Hasse

Há sim uma grande majestade na natureza.

Se a velocidade da noite que vivemos por algum momento se suspende, a natureza acorda em cada folha, em cada desabrochar, em cada murmúrio na esteira do húmus que cobre o chão que pisamos, no pinhal escuro da noite sem vento… que o vento assusta-me.

O vento traz sempre consigo o sopro de alguém irado, como a brisa acolhe o cicio de um afecto ignorado ou o bálsamo da maresia propala o sonho do amor que nunca fenece e se eterniza na água que não se esgota porque não pode ser bebida.

Se o vento clama, se o mar se agita, se a terra treme ou jorra lavas é porque há escravos e o acto de nascer é o acto mais puro de liberdade. O acto físico e simbólico do corte do cordão umbilical. A escravatura nasce depois. E o Homem é o grande fazedor de escravos.

Nós somos parte da natureza e caminhamos para a extinção porque não sabemos conviver com aquela de igual para igual. Usar o próximo dentro dos limites de cada um, sem ferir, dando e recebendo tudo a que cada qual tem direito.

A propalada racionalidade tirou-nos a capacidade de diálogo, a competência do Amor.

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