sábado, março 25, 2006

Prosaísmo


Coimbra do Choupal / ainda és capital / do amor em Portugal /ainda
Coimbra onde uma vez / com lágrimas se fez / a história dessa Inês / tão linda
Coimbra das canções / tão meigas que nos pões / os nossos corações / a nu
Coimbra dos doutores / p’ra nós os teus cantores / a fonte dos amores / és tu

Coimbra é uma lição
De sonho e tradição
O Lente é uma canção
E a Lua a Faculdade
O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer
Saudade
Fado (filme «Capas Negras»)



Quando a tarde se espreguiça num dia mais longo e as roseiras ainda não floriram, acontece o repetir de saudades já mortas ou que nunca o foram.

Quatro décadas em comum não esgotam afectos nem histórias recontadas, daí valer a pena marcar mais fundo num sorriso, as marcas do tempo nos rostos.

Algures pelos anos cinquenta, os estudantes universitários que se ficavam pelo «parecê-lo» acabavam por assentar praça, sem apelo nem agravo.

Parece que havia em Coimbra, no Regimento de Santa Clara, um oficial superior muito zeloso da sua horta. Desgostoso com o assédio das lagartas ao seu couval, destacou três elementos recém-incorporados da estudantina, para o combate ao inimigo que, pela calada da noite, atacava as suas couves.

Munidos de uma lanterna de mão, iniciaram a patrulha da zona, devidamente organizados nas suas tarefas: o primeiro identificava o atacante, o segundo colocava-o no solo e o terceiro esmagava-o com a bota.

Vozes de comando em três timbres soavam na noite, atroando o Choupal:

– Atenção lagarta!
– Lagarta aqui!
– Lagarta abatida!
– Atenção lagarta!
– Lagarta aqui!
– Lagarta abatida!
– Atenção lagarta!
– Lagarta aqui!
– Lagarta abatida…

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